Movimento

Edição nº1425 – sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Funcionários se mobilizam contra desmonte do Banco do Brasil 

Representante dos empregados no Conselho de Administração questiona direção do BB sobre reestruturação

seeb-rio

 

A luta para barrar o plano de reestruturação do Banco do Brasil – fechamento de 361 unidades de atendimento, sendo 112 agências, e demissão de cerca de 5 mil funcionários em plena pandemia – começou na última quarta-feira (13) com a aprovação de um calendário de mobilizações nacionais pela Comissão de Empresa dos Funcionários (CEBB), ratificado pela Contraf-CUT, sindicatos e plenárias em todo o país. 

As mobilizações acontecerão em todos os estados. A primeira ocorreu nesta sexta-feira (15) com um Dia Nacional de Luto. O calendário prevê, ainda, uma nova reunião da CEBB, desta vez no dia 19 de janeiro, para organizar as manifestações de 21/1 – Dia Nacional de Lutas Contra o Desmonte e em Defesa do Banco do Brasil – e discutir desdobramentos.

A avaliação da plenária do Rio de Janeiro é de que para impedir a reestruturação será necessária grande participação dos funcionários e de outras categorias que também serão atingidas com a perda de empregos, como os terceirizados, entre eles os vigilantes e o pessoal administrativo. Na avaliação da diretoria do Seeb-Rio, “o desmonte é criminoso, pois vai prejudicar toda a população e todo o país num momento de crise sanitária e econômica em função da pandemia, em que mais Banco do Brasil se faz necessário”.  

Para os bancários, o plano de reestruturação do BB tem como objetivo preparar a privatização do banco para dar mais lucro ao setor privado e fazer caixa para o ajuste fiscal do governo. Aumenta, ainda, a dependência do Brasil junto aos países desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos, exigindo, por isto mesmo, além de uma mobilização crescente do funcionalismo, a articulação de uma luta nacional e unitária com trabalhadores das demais estatais que passam por processos de desmonte semelhantes, fechamento e privatização de unidades e demissões. Entre estas, a Caixa Econômica Federal, os Correios e a Petrobras. “Esta luta deve buscar a participação, ainda, de toda a sociedade que será atingida pelo ataque ao setor público”, destacam. 

Desmonte desgasta Bolsonaro

Do movimento nacional de pressão para barrar a implantação do desmonte do BB farão parte ainda parlamentares que estão sendo contatados pelos sindicatos e pela Contraf-CUT. O desgaste provocado pelo plano de reestruturação foi muito grande e fez com que Bolsonaro ameaçasse demitir o presidente do BB. A notícia da demissão de André Brandão – motivada, segundo ‘fontes palacianas’, pelo ‘descontentamento de Bolsonaro’ com a reestruturação – foi avaliada pela plenária de quarta-feira “como uma cortina de fumaça, visando protegê-lo de um imenso desgaste num ano pré-eleitoral”, informa o jornal Bancário.  

De acordo com a imprensa, embora a proposta de reestruturação do Banco do Brasil tenha agradado investidores e sido considerada positiva pela equipe econômica para um reposicionamento do banco com enfoque no digital, o anúncio foi considerado inoportuno neste momento em que o Palácio do Planalto busca influenciar na eleição dos comandos da Câmara dos Deputados e do Senado.  

Rita Mota, diretora do Sindicato e membro da CEBB, avaliou que, de todo o modo, Bolsonaro está errado. “Se sabia (do plano de reestruturação) está tentando fugir da sua responsabilidade, querendo inventar um motivo para não se desgastar. Se não sabia, é incompetência, já que Brandão é seu subordinado e do seu ministro da Economia, Paulo Guedes”, argumentou. 

Débora Fonseca, representante dos Funcionários no Conselho de Administração do Banco (Caref), defendeu a denúncia mais ampla possível dos prejuízos que as medidas provocarão ao BB e a toda a sociedade. “Foi uma decisão tomada a portas fechadas, para que apenas um pequeno número de pessoas soubesse. Enviei ofício [veja abaixo] cobrando explicações sobre as medidas e os motivos que levaram a direção do banco a esconder as informações que tenho o direito legal de saber”, afirmou. 

E acrescentou: “A gente tem que fazer um grande movimento nacional de resistência para que este pacote seja revisto, inclusive com o apoio de parlamentares. O impacto do desmonte é muito grande para o BB e para todo o país. Atingiu o banco de uma forma absurda. Temos que atuar para impedi-lo”, afirmou. 

O ataque ao Banco do Brasil

O desmonte proposto no BB durante a pandemia reduz a rede de agências do banco, corta salários, funções gratificadas e prevê a redução de 5 mil postos de trabalho. As medidas previstas para serem impostas no primeiro semestre de 2021 englobam o fechamento de 361 unidades, sendo 112 agências, 7 escritórios e 242 Postos de Atendimento (PA), além da conversão de 243 agências em postos de atendimento e a ‘transformação’ de 145 unidades de negócios em Lojas BB, estes dois últimos, sem gerentes e guichês de caixa. 

Com o fechamento de agências e a sua transformação em PAs, serão cortadas funções gerenciais e de módulo, tendo o banco anunciado, também, a extinção do pagamento contínuo da gratificação de caixa. Os funcionários destas atividades sofrerão uma redução salarial significativa. Os caixas passarão a receber como escriturários. Como parte do plano de desmonte do BB, o governo federal, maior acionista individual do banco, pretende dispensar mais de 5 mil funcionários através do Plano de Adequação de Quadros (PAQ) e do Plano de Desligamento Extraordinário (PDE).

Segundo documento ao mercado, intitulado “Informação Relevante”, assinado por Carlos José da Costa André, vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores, o plano está sendo imposto para ‘adequar’ o BB ao novo perfil dos clientes que se utilizam dos canais digitais, ‘esquecendo’ que no Brasil 47 milhões de habitantes simplesmente não têm acesso à internet. E para economizar R$ 353 milhões em 2021 e R$ 2,7 bilhões até 2025, mesmo com lucro líquido de R$ 10,189 bilhões nos primeiros nove meses de 2020, dentro da política de diminuição do Estado e de ajuste fiscal.  

Representante dos empregados no Conselho de Administração questiona direção do BB sobre reestruturação  

A representante dos funcionários no Conselho de Administração do Banco do Brasil, Débora Fonseca, questionou a administração da instituição sobre o plano de reestruturação. Confira a carta encaminhada ao Conselho do banco. 

“Ao Conselho de Administração do Banco do Brasil 

Senhor presidente, 

O Banco anunciou o programa de reestruturação que está causando grande tensão entre os milhares de colegas, preocupados com o futuro da empresa e com sua própria situação funcional. 

A definição deste programa deveria ter sido avaliada e deliberada com todo o cuidado por este Conselho, pois altera o planejamento estratégico da empresa, seu posicionamento no mercado e sua presença nas regiões e municípios brasileiros. E tem impactos profundos nos salários e lotação de milhares de colegas. 

Como Caref e representante dos funcionários no CA, a lei me impede de deliberar sobre questões envolvendo as de trabalho. No entanto, o plano de reestruturação aborda temas muito mais amplos do que somente os relativos aos nossos mais de 90 mil colegas. 

Solicito informações sobre todos os itens que não sejam diretamente vinculados às questões salariais ou trabalhistas, como fechamento de agências e postos de atendimento, além das datas e instâncias em que aconteceram as deliberações. 

Débora Fonseca” 

Fonte: Seeb-Rio e Contraf-CUT.

 

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Bloqueio de contas de Trump na Internet e o fechamento de agências no BB e da Ford na pauta do Faixa Livre 

Em entrevista ao Programa Faixa Livre, em 13/01, o professor titular da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil, Marcos Dantas, absolveu as redes sociais da ‘acusação’ de servir à barbárie, apesar de defender maior regulação na internet. Ele ressaltou que a direita utiliza os aplicativos de troca de mensagens de maneira mais efetiva que a esquerda e comentou o bloqueio às contas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Twitter, Instagram e Facebook.  

A presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, Adriana Nalesso, condenou na edição de quinta-feira (14) do Faixa Livre, a intenção da diretoria do Banco do Brasil de fechar 361 unidades de atendimento, sendo 112 agências, e demitir cerca de 5 mil funcionários em um “plano de reorganização administrativa”. Adriana lembrou que os trabalhadores, ainda que posteriormente realocados, perdem renda de maneira imediata e pontuou as medidas que o Sindicato está tomando para evitar este processo.

O fechamento das fábricas da Ford no Brasil também esteve na pauta do programa no dia 14. O secretário da Executiva Nacional do CSP-Conlutas e metalúrgico de São José dos Campos, Luiz Carlos Prates, ressaltou que tal decisão repete a estratégia de outras montadoras na tentativa de maximizar os lucros em detrimento da classe trabalhadora. Prates lamentou a atuação do governo para evitar mais demissões na indústria. 

O Programa Faixa Livre vai ao ar, ao vivo, na Rádio Bandeirantes (1360 AM) – toda segunda-feira, das 9 às 10h; e de terça a sexta-feira, das 8 às 10h.