No terceiro trimestre do ano
2020, o Banco do Brasil
desembolsou R$ 6,2 bilhões,
beneficiando 110 mil
empresas. O saldo total da
carteira de crédito para
Micro, Pequenas e Médias
Empresas do Banco do Brasil
teve alta de 17,9%, em
relação a setembro de 2019
(aumento de R$ 11,2
bilhões). Os recursos foram
viabilizados pelo Programa
Nacional de Apoio às
Microempresas e Empresas de
Pequeno Porte (Pronampe). No
mesmo período, a Caixa
Econômica Federal havia
desembolsado R$ 12,064
bilhões. Para efeito de
comparação com as
instituições privadas, o
Itaú, que também operou o
Pronampe, atingiu 47 mil
micro e pequenas empresas
com valores correspondentes
a R$ 3,9 bilhões.
“No caso do BB, este aumento
da carteira de crédito para
as MPEs (Micro e Pequenas
Empresas) é significativo se
levarmos em consideração
que, em 2015, o BB promoveu
uma reestruturação que tirou
a atuação dos gerentes de
relacionamentos em contato
direto com esses clientes,
concentrando sua atuação
através do sistema digital.
A reestruturação, segundo
dados do balanço, operou uma
perda 51% da carteira de
crédito de clientes MPEs da
instituição. Já em fevereiro
de 2020, o banco anunciava
novamente uma reestruturação
que devolveu a atuação
desses gerentes de
relacionamento de forma
direta com os clientes
pessoas jurídicas, nas áreas
de Micro, Pequenas e Médias
Empresas”, explicou o João
Fukunaga, coordenador
nacional da Comissão de
Empresa dos Funcionários do
Banco do Brasil (CEBB).
Exemplos não faltam sobre a
atuação dos bancos públicos
no fomento da economia no
momento da pandemia, que
teve implicações em todo o
mundo. O desembolso, com
programas como o Pronampe,
fez crescer em 27,8% o
desembolso para as MPEs,
ante 11,1% das grandes
empresas. Este recurso do
Pronampe foi disponibilizado
em créditos cedidos via
Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) para todos os
grandes bancos comerciais.
Enquanto alguns
internalizaram esses
recursos e reforçaram seus
caixas, os bancos públicos
atuaram junto à economia
mais fragilizada, nas micro
e pequenas empresas.
“O BNDES e seus funcionários
sempre desempenharam um
papel de análise criteriosa
de desembolsos, atuando em
momentos de crise econômica
para inibir a contaminação
sistêmica internacional.
Esse é o papel de um banco
de fomento, mais ainda de um
banco público, pois a
própria reportagem mostra a
retração do crédito vindo de
bancos privados”, analisou
João Fukunaga. Em reportagem
de 3 de janeiro, o jornal “O
Estado de São Paulo”, na
seção Economia, registrou a
atuação do BNDES na pandemia
com as MPEs. Mas a
reportagem não informou que
os R$ 150 bilhões em
desembolso, nesse momento de
pandemia, vieram do BNDES, o
banco público fomentador
nacional de políticas de
crédito.
Dados do Banco Central do
Brasil indicam que, no
início de 2009, o saldo de
crédito dos bancos públicos
crescia a taxa de 31,5% ao
ano acima da inflação.
Enquanto no mesmo período o
crédito nos bancos privados
crescia a taxa de 17,8%
acima da inflação. Ao final
daquele ano, com o
agravamento da crise
econômica internacional, os
bancos privados no Brasil
reduziram brutalmente os
novos desembolsos de crédito
e, em dezembro, a taxa de
crescimento em 12 meses
havia despencado para 1,2%
acima da inflação, enquanto
nos bancos públicos os
desembolsos foram
sustentados por uma decisão
política do governo e, em
dezembro de 2009, o crédito
nas instituições estatais
ainda crescia a elevada taxa
de 27% acima da inflação.
“A importância dos bancos
públicos na atuação contra
crises econômicas é
fundamental para
sustentabilidade no pequeno,
médio e longo prazo, com
políticas de juros mais
baixos, permitindo aumento
de geração de emprego, como
crescimento da atuação
dessas empresas na economia
direta”, afirmou o
coordenador da CEBB.
De acordo com dados do
Departamento Intersindical
de Estudos e Estatísticas
Sócio-Econômicas (Dieese),
entre janeiro de 2008 e
janeiro de 2016, a
participação dos bancos
públicos no crédito total no
país passou de 33,8% para
56,5% e a participação dos
bancos privados caiu de
66,2% para 43,5%. Por outro
lado, desde 2016 a
participação dos bancos
públicos vem caindo
sistematicamente chegando a
45,7% em outubro de 2020,
ante uma participação
crescente de 54,3% dos
bancos privados. Outro dado,
de dezembro de 2019, por
exemplo (portanto antes da
pandemia), mostra que o
crédito nos bancos públicos
apresentava queda real de
6,2% em 12 meses, enquanto
nos bancos privados o saldo
de crédito apresentava
elevação de 11,4% acima da
inflação.
O BNDES expandia sua
carteira de crédito a uma
média de 32% acima da
inflação em 2009 e manteve
tendência crescente até que
em 2016 tem início o
desmanche do banco. Ao final
daquele ano a carteira de
crédito do BNDES caiu 18% em
termos reais, seguido de
queda real de 14,3% em 2017,
12,1% em 2018 e 17,5% em
2019, conforme lembrou a
reportagem do Estadão.
“Um dos principais problemas
do sistema financeiro
brasileiro é a ausência de
mecanismos de financiamento
de projetos de longo prazo
como, por exemplo,
infraestrutura. Esvaziar o
mais poderoso instrumento de
política econômica de
financiamento de longo prazo
no país significa renunciar
a um universo de projetos
que garantiriam maior
soberania nacional, maior
desenvolvimento industrial e
tecnológico, com geração de
empregos de qualidade e
renda”, ressaltou Fukunaga.
A reportagem do jornal
mostra que a mudança na
orientação da política
econômica de crédito, via
bancos públicos no governo
Temer e continuado no
governo Bolsonaro, não
somente contribuiu para um
desmonte dos bancos
públicos, como jogou a
economia para créditos
diretos e com custo maior
nos bancos privados. Em
contrapartida, se recorre
agora aos bancos públicos
para atuarem onde os bancos
privados não têm interesse
econômico.
“A matéria do Estadão cria
uma alegoria fictícia em que
essa guinada de atuação foi
o melhor resultado possível.
Mas o fortalecimento dos
bancos públicos é uma
necessidade constante.
Contudo, infelizmente,
assistimos a uma tragédia
econômica anunciada com o
desmonte das instituições
financeiras de caráter
público”, afirmou o
coordenador da CEBB. Para
Fukunaga, defender os bancos
públicos é bom para o
Brasil, e não é simplesmente
um jargão da “esquerda
comunista”. Para ele, a
atuação dessas instituições
é fundamental no
desenvolvimento econômico do
país.
Fonte:
Contraf-CUT.
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