Como tudo que Jair faz
nesta vida, suas
críticas ao sistema
eleitoral eletrônico,
impulsionadas pelos
recentes acontecimentos
no coração do Império,
integram uma estratégia
diversionista, desenhada
sob medida e com algumas
finalidades bastante
pragmáticas: a)
canalizar a atenção da
mídia e da população em
geral para um tema menor
e desimportante,
enquanto o Brasil segue
quebrando recordes de
mortos pela pandemia,
muitos dos quais
evitáveis e diretamente
atribuíveis à inação do
seu
governo;
b) reforçar o discurso
de polarização e colocar
Jair mais uma vez
“contra tudo isso que
está aí”, mesmo que o
próprio e sua família
sejam subprodutos óbvios
das estruturas que
tentam demonizar;
e c) reduzir o processo
democrático a pleitos
eleitorais e à
metodologia (se papel ou
computador) empregada na
captação da vontade
popular, recurso que não
é exclusivo de Jair,
diga-se de passagem,
posto que empregado por
diversas forças
políticas antes dele.
Divertir a mídia, no
sentido amplo do termo,
é o que Jair faz de
melhor. Cada declaração
tresloucada é pauta para
editoriais dos jornalões,
que, por má-fé ou
burrice mesmo (e a
ignorância é vizinha da
maldade, já diz um
ditado árabe), dedicam
reflexões extensas a
toda sorte de estupidez,
como se conversassem com
um interlocutor
intelectualmente
honesto. Ficam Merval,
Miriam e congêneres
entretidos com as
palhaçadas, e
a
Covid
segue torando; parece
até que disputa corrida
com a ciência, agora que
deve saber sobre a
chegada das vacinas.
A
lógica de ringue e de
autocolocação
permanente num “beco sem
saída” é recurso comum a
derrotados, mas que
funciona muito bem num
ambiente dominado por
teorias da conspiração e
linguagem mimética. O
meme que dispensa
interpretações e o clima
de perseguição são
ferramentas utilíssimas
na transmissão de
“pensamentos” falsos,
pós-verdadeiros e mal
intencionados.
Consolidam no imaginário
popular a ideia de que a
política é simplória,
binária e que Jair só
não governa porque não o
deixam. Como se o seu
“não governo” não fosse,
em si mesmo, um projeto.
Só quem nunca leu meio
livro de história
consegue equiparar,
ainda que
discursivamente,
democracia à eleição.
Nem a democracia liberal
burguesa, vitoriosa no
Ocidente, é tão reduzida
assim. Jair não está nem
aí para a democracia,
seja de corte burguês,
liberal ou socialista.
Ele quer “causar” e
“lacrar”, até que o
Twitter também lhe casse
o login. Seu desejo é
divertir, entreter e
conspirar, ao passo que
impõe “democracia” como
sinônimo de “eleições”,
afastando cada vez mais
o controle popular dos
seus atos e permitindo
que as estruturas de
governo se convertam,
sempre e sempre, em
linhas auxiliares dos
processos de acumulação
de capital.
Jair diverte para que
Guedes tome e execute
decisões. Os bobos somos
nós. |