O pouco certo ou o muito duvidoso?
Armando José Leal
Aposentado do BNDES
 

Quando jovem e diante de decisões que envolvessem riscos financeiros, minha mãe, na sua simplicidade, dizia: "Filho, pensa bem, às vezes, é melhor o pouco certo que o muito duvidoso". Guardei este ensinamento, que sempre esteve comigo e foi valioso em muitas decisões tomadas no correr dos anos.

Ao longo da vida exemplos reforçaram este aprendizado quando gente, em busca de lucros maiores e imediatos, migrou de aplicações financeiras conservadoras, como a poupança ou a renda fixa, para aplicações de risco e amargaram grandes perdas, fazendo a festa dos "profissionais" do mercado.

Ingressei no BNDES em 1974 em cargo de nível médio. Vindo de família simples, não tive muitas opções a não ser a velha poupança e as aplicações automáticas no "overnight" com os espantosos rendimentos diários na defesa contra a corrosão da moeda por conta da alta inflação.

Desde cedo fui ativista em nossa Associação e no Sindicato dos Bancários. Participei do amadurecimento das relações trabalhistas, fazendo parte de várias comissões de negociação que levaram à assinatura de Acordos que garantiram minimamente o poder de compra dos salários, bem como avanços e ampliações de benefícios e de outras questões de natureza institucional.

Nesta seara, aprendi que o reajuste salarial deve ser o centro da negociação, pois é ele que recompõe o poder de compra dos salários. Para um país que viveu a hiperinflação dos anos 80, isto era fundamental. O abono era uma "cenoura" oferecida pelos patrões para aliviar os empregados desesperados na data-base. Posteriormente, sob uma legislação específica, surgiu a Participação nos Resultados – uma verba referente aos resultados da empresa em determinado exercício.

A importância do reajuste é que ele incide sobre todas as verbas salariais, como a hora extra, abono de férias, gratificação salarial, gratificação de função, auxílios refeição e alimentação e mesmo a PR, sendo acumulado ao longo de nossa vida laboral. É o que define o padrão de vida que teremos no final da carreira, considerando, é claro, o nível de aspiração de cada um, oportunidades aproveitadas e a gestão racional dos recursos recebidos.

Colher bons resultados foi fruto de muito trabalho. Durante os anos 90, a Comissão dos Empregados era assessorada por representantes do Dieese na defesa de nossas teses. Antes de sentar à mesa, a Comissão dos Empregados – composta pelas AFs, representantes do Sindicato e Dieese e membros eleitos em AGE – participava de um seminário de três dias na Pousada Itaipava para mergulhar na Pauta de Reivindicações, preparar a defesa de cada um dos pontos e organizar quem faria a argumentação. Íamos para as rodadas de negociação preparados e organizados, com unidade de pensamento e ação.

Creio ser importante compartilhar esta vivência em meio ao difícil quadro institucional que estamos experimentando na negociação do ACT 2014. Até onde tenho acompanhado, a não implantação do GEP Carreira, acordado em 2012 e ainda não posto em prática, tem sido a grande frustração e o entrave da negociação.

Caminhamos para o sétimo mês sem reajuste salarial e sem perspectivas de solução no curto prazo, com o risco de avançarmos para a negociação do ACT 2015 sem fechar o atual. Caso isto ocorra, não acredito que o DEST vá autorizar a aplicação dos índices FENEBAN nos dois exercícios. Afinal, a proposta de Acordo foi feita, quem não aceitou foram os empregados. Com o rigor do ajuste fiscal, certamente esta parcela será suprimida definitivamente de nossa massa salarial.

Portanto, creio que é o momento de nossos representantes na Comissão dos Empregados fazerem uma profunda reflexão sobre os rumos deste ACT. Lutamos muito para consolidar a instituição do Acordo Coletivo de Trabalho, que proporcionou grandes avanços na rela-ção do BNDES com seus empregados.

É preciso entender que a luta por melhorias – em que área for – não pode se limitar à mesa de negociação. Mas se esta for a única opção, tem que se estar disposto ao enfrentamento e a arcar com os custos da decisão. Não dá para rejeitar uma proposta de Acordo e a opção de fazer greve numa mesma AGE. Fora da mesa, demandas judiciais são recursos válidos para reparação de direitos. Mas um trabalho permanente de sensibilização dos escalões médio e superiores da empresa é fundamental para quebrar resistências e superar obstáculos.

Hoje, o risco da não percepção dos 8,5% de reajuste parece não importar a muitos colegas, ainda na perspectiva de avançar na questão do GEP Carreira e de outros pontos da Pauta. De imediato, pode até ser. Mas esta questão deve ser avaliada no longo prazo para evitar perdas substanciais. Para estimá-las, pedi ao colega Cláudio Abreu, "o senhor de todas as planilhas", alguns cálculos para dimensionar o rombo ao longo dos anos. Tais números seguem no quadro abaixo.

 
 
 

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