Desde
que a história da
vida humana na Terra
foi dividida em
antes e depois de
Cristo, não há como
negar que a
humanidade deu
passos decisivos no
sentido de
estabelecer padrões
morais e éticos mais
elevados para os
princípios e valores
que vieram a nortear
não somente as leis
de cada país, mas
principalmente a
conduta dos
indivíduos nas
diversas sociedades.
A mensagem cristã,
no sentido de que os
modos de pensar,
falar e agir devem
ser calcados no
princípio de não
fazer aos outros o
que não queremos que
façam conosco e
fazer com eles o que
gostaríamos que
fizessem com a
gente, influenciou
todas as culturas a
ponto de atualmente
a maior parte das
pessoas se
escandalizar com
atos de covardia e
crueldade (como as
execuções e
atentados
perpetrados por
terroristas) que, na
antiguidade, eram
considerados
normais.
Entretanto, basta
observar cada ser
humano de perto
(afinal, como dizia
Caetano, de perto
ninguém é normal...)
para perceber que a
nossa postura,
principalmente
quando estamos
fazendo parte de um
grupo, ainda que
temporariamente, é
muitas vezes
questionável, até
por nós mesmos
posteriormente. No
calor da discussão,
em defesa das ideias
de um grupo a que
pertencemos, somos
às vezes tentados a
deixar aflorar
instintos nada
cristãos, que podem
nos levar a um
comportamento não
mais de indivíduo,
mas de "massa", o
que nos torna
dispostos a
crucificar os
"Cristos" da vez,
com base em
acusações muitas
vezes sem qualquer
fundamento,
resultado apenas de
especulações e
opiniões impensadas,
mas que são capazes
de levar a "massa" a
clamar por "ver
sangue", não
importando naquele
momento insano, se é
o sangue de um
inocente que pode
estar prestes a ser
derramado.
Pode-se argumentar
que, tirando
crianças e raros
adultos que mantêm
algo de puro em seus
corações, não há
mais inocentes e
todos, de alguma
forma, por algum
motivo, têm "culpa
no cartório". É
justamente disso que
se valem os
acusadores da vez,
agindo muitas vezes
em prol de
interesses
financeiros de
grupos compostos por
pessoas que fazem
parte das elites que
concentram em
algumas famílias boa
parte da riqueza
gerada pelos bilhões
de seres humanos.
Diante dos avanços
sociais que as
modernas democracias
vêm ensaiando
promover, os membros
dessas elites agem
na maioria das vezes
em segredo, mas às
vezes até
abertamente, para
manter seu status
quo a qualquer
custo, movidos
geralmente por
princípios e valores
por assim dizer
pré-históricos, tais
como: avareza,
ganância, egoísmo e
soberba.
Esses grupos atuam
de forma a criar ou
se utilizar das
estruturas de poder
já estabelecidas,
sejam elas de
natureza religiosa,
empresarial,
política, midiática
ou social
propriamente dita,
com o objetivo de
manter sistemas de
dominação onde
possam agir com
eficácia em prol de
seus interesses, os
quais, via de regra,
são de ordem
financeira, já que,
no final das contas,
nesse mundo o
dinheiro ocupa o
centro do poder.
Infelizmente, essa
elite, apesar de
constituir uma
minoria, é capaz de
se articular de
forma eficaz, unindo
esforços para
consolidar e mesmo
expandir seu poder
de controle e
comando sobre boa
parte das estruturas
que constituem os
pilares da
civilização.
O próprio Cristo já
havia alertado sobre
isso, quando
salientou que os
"filhos deste mundo"
(fazendo referência
aos que se apegam
demasiadamente aos
prazeres materiais)
são mais espertos e
sagazes em seus
negócios do que os
"filhos da luz"
(isto é, os que
buscam agir à "luz"
da verdade, da
honestidade e da
justiça).
E assim caminha a
humanidade... ("com
passos de formiga e
sem vontade", como
canta Lulu Santos),
assistindo ao "joio"
da mentira e da
ambição desmedida
crescer em meio ao
"trigo" da
sinceridade e da
solidariedade, de
modo que já não é
possível
distingui-los
perfeitamente, com
os frutos tóxicos do
primeiro se
misturando aos grãos
do segundo, tanto em
nível individual
como em escala
global.
Por isso, devemos
tomar muito cuidado
para não nos
precipitarmos em
começar a nos
acusarmos, julgarmos
e condenarmos
mutuamente, sem
primeiro buscar
conhecer a verdade
de cada um, que pode
estar escondida sob
argumentos
aparentemente
justos, mas que
podem se revelar
como sendo apenas a
"ponta do iceberg"
de estratagemas
muito bem
engendrados por
interesses
poderosos, que usam
não somente as
estruturas, mas
também as pessoas
para reproduzirem e
disseminarem ideias,
informações e
discursos com o
objetivo de levar as
pessoas a se
"posicionarem", a
escolherem um
"lado", como se a
realidade fosse
maniqueísta, como se
fosse possível
rotular todas as
pessoas como apenas
boas ou más.
O objetivo final a
ser alcançado parece
ser um maior e
melhor controle
sobre as pessoas
através das "massas"
a que elas aderiram
quando se
"posicionaram",
quando aceitaram
abrir mão da
liberdade do
pensamento racional
individual, para se
enquadrarem em um
estereótipo grupal,
com comportamento
típico de "massa",
facilmente
manipulável e
sujeito a ser
conduzido para
atingir os fins que
interessam aos donos
do poder, em
detrimento, na maior
parte das vezes, dos
interesses dos
próprios integrantes
da "massa".
E não se enganem
aqueles que pensam
que "fazem parte
dessa massa" (como
dizia Zé Ramalho)
somente pessoas
pobres e menos
esclarecidas. Na
verdade, com o
aperfeiçoamento dos
sistemas de
dominação, hoje,
além das "massas"
mais populares, há
"massas" de todas as
"castas". Basta
observar, por
exemplo, como,
atualmente, algumas
pessoas cultas e de
classe média se
digladiam, com
comportamento típico
de "massa",
acusando/defendendo
alguns políticos e
respectivos partidos
de forma quase
sempre maniqueísta,
como se fosse uma
luta entre os
"mocinhos" e os
"bandidos", entre o
bem e o mal.
Precisamos conversar
mais e brigar menos.
Precisamos dialogar
como pessoas livres
e sensatas ao invés
de ficarmos
discutindo como
membros sectários de
grupos fechados.
Precisamos ser mais
tolerantes com quem
está enxergando o
mesmo que nós, mas
de um ponto de vista
diferente. Afinal,
todos queremos o
melhor, não só para
nós mesmos e nossas
famílias, como para
o nosso país. Só
precisamos de um
pouco mais de calma,
humildade e
paciência para não
ficarmos perdendo
tempo em discussões
inúteis sobre o que
nos "vendem" como
sendo o melhor.
Vamos discutir mais
ideias e menos
pessoas. Vamos
manter a gentileza
enquanto expomos
nossos pontos de
vista para não
faltarmos com o
respeito para com
nossos semelhantes,
que, assim como nós,
também gostam de ser
respeitados. Vamos
ser mais gente e
menos "gado", valeu? |