A uma semana do
prazo para o
presidente
"explicar" a
"caixa-preta" do
BNDES, já tivemos
alguns vislumbres do
que vem por aí.
Tivemos quatro
episódios de
antecipação. O
primeiro foi a
péssima conversa com
o senador Álvaro
Dias, já analisada
em editorial
passado. As teorias
do senador sobre o
BNDES são absurdas,
ridículas. Posar ao
seu lado sem fazer
qualquer reparo a
suas histórias,
significou apenas
dar respaldo ao
discurso demagogo e
conservador do
parlamentar. Ainda
tivemos uma série de
comentários
infelizes sobre o
"fim da
privacidade", como
se fosse algo
positivo ou
inexorável o apoio à
proposta
destrambelhada de
dar fim a qualquer
sigilo bancário no
caso de empréstimos
com base em recursos
públicos etc.
O segundo episódio
foi a publicidade do
erro operacional no
caso da operação
JBS-Swift, que
também exploramos
aqui no VÍNCULO.
Ainda veremos o
resultado dessa
estratégia de bater
bumbo sobre um erro
operacional que dois
presidentes
anteriores já tinham
tomado conhecimento
e não acharam
justificativa para
dele fazer alarde.
Qual o sentido em
dar grande
publicidade ao que
foi detectado pelo
próprio BNDES,
informado aos órgãos
de controle e
considerado por uma
sindicância interna
como erro
operacional? Ainda
mais numa divulgação
que diz tratar-se de
erro operacional,
para em seguida
informar que não é
possível afirmar se
houve dolo ou não...
Faz algum sentido?
O último episódio do
"explicando" a
"caixa-preta" é a
história dos
jatinhos.
Seguramente, a mais
constrangedora. O
uso sem qualquer
disfarce do controle
da máquina do BNDES
para atender a
demandas eleitorais
do atual presidente
da República talvez
seja inédito. Assim
como no caso da
JBS-Swift, a
informação divulgada
sem a explicação do
devido contexto
parece ser a fórmula
mágica para
conseguir o que
parecia ser
impossível: atender
à demanda das lives
do presidente e não
falar inverdades.
Infelizmente, todos
sabem o resultado
disso: meias
verdades podem ser
mais danosas que
puras mentiras.
A divulgação dos
compradores dos
jatinhos sem nenhum
contexto sugere que
o objetivo do
programa era
sustentar o consumo
de luxo de alguns
milionários (os
"amigos do rei").
Apenas o grupo
formado pelos mais
ingênuos, aqueles
que querem ascender
na carreira a
qualquer custo e os
mais fanatizados
apoiadores do atual
governo vão achar
possível que esse
tipo de divulgação –
que distorce por
completo o propósito
das políticas
públicas nas quais o
Banco esteve
envolvido – pode ser
a forma correta de
melhorar a imagem do
Banco. Ora, tivesse
sido verdade que
seus empregados
toparam tocar uma
política com o
propósito principal
de atender
milionários com
aviões executivos, o
Banco deveria ser
fechado!
Nenhum funcionário
do BNDES trabalhou
em políticas
públicas com esse
tipo de
justificativa. A
lógica dessas
políticas tem que
ser devidamente
apresentada para ser
em seguida debatida,
defendida ou
atacada. Ao
apresentar de forma
completamente
distorcida a
política que levou
ao financiamento de
jatos executivos, o
presidente Montezano
afunda na lama o
nome da instituição
em que trabalhamos.
Isso mereceria o uso
do termo
"explicação" para
uma nova abordagem.
Vamos dar um
exemplo. O atual
governo é
completamente contra
a política de
estímulo de
investimento e
demanda. Acredita
nos poderes do
efeito da confiança
derivados de
reformas
ultraliberais para
que a economia
retome uma
trajetória de
crescimento.
Assumindo e
desenvolvendo a
lógica dessa visão
de economia,
poder-se-ia abordar
a suposta futilidade
de esforços como o
do PSI para manter o
nível de atividade
da economia. E,
então, criticar as
políticas adotadas
pelo Banco, as
prioridades
escolhidas etc. Aqui
haveria espaço para
debate verdadeiro
entre visões de
economia.
É claro que essa
abordagem não
atenderia de forma
alguma a demanda de
Brasília para
continuar fazendo do
BNDES plataforma de
uma campanha
política permanente.
Está o presidente
Montezano plenamente
consciente do papel
que está cumprindo?
Ainda há tempo para
mudar a abordagem
que tem sido dada ao
tema da
"caixa-preta". Os
compromissos
políticos e mesmo
uma visão inicial
sobre um problema
não podem prevalecer
sobre evidências,
sobre a verdade.
Seria um ato mínimo
de compromisso com
os fatos mais
básicos se o
presidente Montesano
deixasse claro que
os valores de
desembolso para
exportação de bens e
serviços de
engenharia,
constantemente
repetidos pelo
presidente da
República, são
completamente
falsos. A realidade
dos desembolsos é de
que esses estão na
casa dos US$ 10
bilhões (em 20
anos), e o
presidente em suas
lives fala em US$
500 bilhões
supostamente durante
os anos petistas.
A AFBNDES acompanha
há três anos as
diversas denúncias
sobre a
"caixa-preta" do
BNDES. O presidente
está estudando o
tema há pouco mais
de um mês.
Gostaríamos de
participar do evento
de esclarecimento e
ter a oportunidade
de,
democraticamente,
debater as
evidências e as
interpretações
elaboradas pelo
executivo e sua
equipe.