A divulgação, pelo BNDES
(Banco Nacional de
Desenvolvimento
Econômico e Social), de
lista com 134 contratos
de financiamentos a
jatos executivos gerou
críticas sobre uso
político pelo governo de
informações do banco de
fomento.
Em redes sociais, o
governador de São Paulo,
João Doria (PSDB),
classificou como
“oportunismo” a
associação de empréstimo
tomado por sua empresa a
“algo errado”.
A AFBNDES (Associação
dos Funcionários do
BNDES) reclama do uso
dos dados de
financiamentos para
atacar adversários
políticos do presidente
Jair Bolsonaro.
A empresa Doria
Administração de Bens,
do governador paulista,
é uma das 134 citadas na
lista divulgada na
segunda-feira (19) pelo
banco, com um empréstimo
de R$ 44 milhões. Ao
todo, elas tomaram R$
1,9 bilhão em juros
subsidiados para a
compra de jatos
executivos.
Os empréstimos foram
concedidos pelo PSI
(Programa de Sustentação
do Investimento), criado
sob Lula para tentar
manter a economia
aquecida após a crise de
2008.
Segundo o BNDES, o custo
com os subsídios a
financiamentos de
aeronaves executivas
chega a R$ 693 milhões,
em valores corrigidos. O
banco reconhece, porém,
que os contratos
seguiram o arcabouço
legal vigente.
Além de Doria, o governo
ressaltou a presença na
lista de empresa do
apresentador Luciano
Huck, que na semana
passada disse que
Bolsonaro não representa
um novo ciclo, mas é
“parte do caos”.
“Se ele comprou jatinho,
ele faz parte do caos”,
disse Bolsonaro após as
críticas do
apresentador, que
recebeu empréstimo de R$
17,7 milhões para a
compra de um jato
executivo por meio da
empresa Brisair.
A possibilidade de
divulgação dos
financiamentos para
jatos executivos foi
anunciada na
quinta-feira (15) pelo
presidente Jair
Bolsonaro, como uma das
medidas para “abrir a
caixa-preta” do banco
estatal, uma de suas
promessas de campanha.
A lista inclui diversos
tipos de empresa, desde
companhias de táxi aéreo
a grupos com atuação na
construção, no
agronegócio e no varejo
– como o grupo
Riachuelo, de Flávio
Rocha, que apoiou
Bolsonaro na campanha.
Os contratos foram
assinados entre 2009 e
2014, com juros variando
de 2,5% a 8,7%, enquanto
a taxa Selic oscilou de
8,2% a 10,9% no período.
A diferença era bancada
pelo Tesouro Nacional.
“Alguns oportunistas
tentam associar um
financiamento que
realizei junto ao BNDES
para a compra de uma
aeronave, totalmente
dentro das regras que o
banco estabelece, como
se tivesse feito algo
errado”, escreveu Doria.
O governador criticou a
divulgação da lista e
recomendou que o BNDES
“focasse os bilhões
emprestados pelo BNDES
para obras de
desenvolvimento em
países ‘companheiros’
durante a gestão do PT
no governo federal e que
nunca foram pagas”.
Em nota, Huck também
defendeu que o
empréstimo tomado por
sua empresa seguiu as
regras estabelecidas.
“Fizemos um empréstimo
transparente, pago até o
fim, sem atraso. Tudo
como manda a lei”,
afirmou.
“Milhares de operações
financeiras como essa
foram realizadas, com
único objetivo de
estimular a produção, a
aquisição e a
comercialização de bens,
máquinas e equipamentos
produzidos no Brasil”,
segue o apresentador.
O vice-presidente da
AFBNDES, Arthut Koblitz,
defende que a inclusão
de jatos no PSI teve o
objetivo de incentivar a
compra de aeronaves da
Embraer, num momento em
que a empresa entrava
nesse mercado.
“Não é que [a gestão do
banco] está contando
mentiras, mas está
contando as coisas sem
contexto, o que não
contribui para informar
o público”, afirmou.
“Pode-se discutir a
política, mas não faz
sentido dizer que é para
‘amigos do rei’.”
A abertura da
“caixa-preta” do BNDES
foi uma das promessas de
campanha de Bolsonaro e
um dos motivos para a
saída do primeiro
presidente do banco sob
sua gestão, Joaquim Levy.
Ele pediu demissão em 16
de junho, um dia depois
de Bolsonaro dizer em
entrevista que estava
“por aqui” com o
executivo, que havia
nomeado Marcos Barbosa
Pinto, ex-colaborador de
gestões petistas no
BNDES, para uma
diretoria no banco de
fomento.
Foi substituído por
Gustavo Montezano, amigo
da família Bolsonaro que
ocupava um cargo no
Ministério da Economia.
Ao anunciar a indicação,
Bolsonaro frisou que uma
de suas prioridades
seria abrir a
caixa-preta –
referindo-se
especificamente a
empréstimos concedidos a
países como Cuba e
Venezuela.
“[Vamos] explicar tudo o
que tiver, abrir toda a
informação que o
brasileiro quiser ver. E
aí vamos virar essa
página”, disse Montezano
em sua posse.
Para a AFBNDES, porém, a
iniciativa vem sendo
usada de forma política
pelo governo. “Estão
usando os mitos do BNDES
para combater
adversários políticos do
presidente”, disse
Koblitz. |