Diante desses fatos,
concluiu-se que o
déficit apurado na
Avaliação Atuarial de
2015 advém de causa
conjuntural."
Tais argumentos parecem
ser insuficientes e
inconclusivos para
explicar o déficit
atual, e nada além foi
dito a respeito, a não
ser:
"Dessa maneira, o
equacionamento do
déficit do PBB será
feito por meio de
cobrança de
contribuições
extraordinárias, uma vez
que essa é a forma, em
geral, adotada em causas
conjunturais."
Em meu ponto de vista,
são outras as razões
para a má performance da
Fapes Investimentos nos
últimos anos:
1º) A redução do juro
real no Brasil, ao longo
da última década
3,4,
uma vez que mais de 60%
da carteira está em
renda fixa.
2º) Um resultado
inexplicável nos
investimentos em renda
fixa em 2013, negativo
em quase 10%. Talvez não
tão inexplicável assim:
no início de 2013 houve
uma inflexão da taxa
Selic5,
não prevista pela FAPES,
conforme se lê na sua
política de investimento
daquele ano6:
"Em 2013, as
expectativas de juros
menores e das medidas de
incentivo do governo,
como os planos de
investimentos em
infraestrutura e as
desonerações fiscais,
devem contribuir para
uma aceleração do
crescimento. Nesse
cenário, as perspectivas
são de manutenção da
inflação acima do centro
da meta pelo quarto ano
consecutivo. Para os
juros, espera-se que a
Selic fique estável até
o último trimestre,
quando as expectativas
inflacionárias para 2014
e a própria dinâmica do
crescimento levariam ao
início do ciclo de
aperto monetário".
(pag. 6)
Naquele momento, os
títulos pré-fixados
existentes iniciaram uma
queda acentuada. O
NTNB-Principal-2035, que
valia em torno de
R$950,00 no início de
2013, iniciou 2014
valendo em torno de
R$600,00. Todos os
títulos pré-fixados e
indexados à inflação
seguiram o mesmo
caminho:
"NTN-B e Riscos dos
juros
Se você comprar o título
e puder esperar até a
data de vencimento, não
precisa se preocupar se
o governo vai aumentar a
taxa de juros (taxa
Selic) ou se as taxas
irão sofrer variação até
o vencimento.
Os riscos ou
oportunidades ocorrem se
você comprar a NTN-B ou
NTN-B Principal com
planos de vender o
título antecipadamente,
ou seja, antes do
vencimento. Nesta
situação existe o risco
de você vender o título
e obter uma
rentabilidade menor do
que a que foi prometida.
Também é possível que a
antecipação aumente a
rentabilidade. O que vai
determinar isto é se a
perspectiva para a taxa
de juros é de alta ou de
baixa. Quando os
juros estão aumentando:
O preço atual da NTN-B
diminuem; Quando os
juros estão diminuindo:
O preço atual da NTN-B
aumenta. Podemos
concluir que é
desvantajoso vender o
título antecipadamente
se as taxas de juros
oferecidas para quem vai
comprar novos títulos
estão subindo, pois isto
faz o preço destes
títulos caírem 7."
A renda fixa representa
em torno de 65% do
patrimônio da FAPES.
Nesse segmento, a
exposição a títulos de
longo prazo atrelados à
inflação é em torno de
80%, e à Selic, 10%8;
daí se percebe o impacto
da precificação a
mercado desses títulos.
Do início de 2013 ao
início de 2014, a taxa
Selic foi de 7,25 para
10,50%. Como
consequência, as NTN-B
com vencimentos para
2024, 2035 e 2050, que
estavam sendo negociadas
às taxas de 3,57%, 4,03%
e 4,09%,
respectivamente,
passaram a ser
negociadas a 6,43%,
6,57% e 6,62%9.
No período, o fundo
Albatroz (CNPJ
05.503.817/0001-04), que
detinha a maioria dos
recursos do PBB, teve
seu patrimônio líquido
reduzido de R$ 5,7
bilhões para R$ 5
bilhões10,
amargando prejuízo de
11,1%. O Fundo Águia,
que, até o primeiro
bimestre de 2014, era um
Fundo de Investimento em
Cotas (FIC) composto por
cotas de dois fundos de
investimento, Fundo
Albatroz e Fundo
Bem-Te-Vi, teve prejuízo
de 9,43%, pois
basicamente espelhou o
resultado do Albatroz
(uma dúvida que os
leitores atentos
obviamente terão é: por
que um fundo gerido pela
FAPES aloca seus
recursos em cotas de
outro fundo gerido pela
FAPES?).
Após o tombo de
R$700milhões em 2013, a
FAPES realizou algumas
alterações em sua
política de
investimentos. No Anexo
IV - ALM (Asset
Liability Management) –
foi sugerido:
"Outra indicação dessa
otimização contemplou a
precificação de títulos
públicos de longo prazo
indexados à inflação
pela marcação na curva,
ou seja, "títulos
mantidos até o
vencimento" conforme
prevê a legislação
vigente."
Em 2014, o relatório de
política de investimento
introduziu o seguinte
texto:
"A partir da alocação
estratégica definida no
ALM, são realizadas
realocações com o
objetivo de ajustar a
composição do segmento
às alterações de curto
prazo nas perspectivas
de retorno e risco, em
consequência de mudanças
no cenário
macroeconômico ou nos
preços de mercado dos
ativos."
"A FAPES pode, em função
das indicações dos
resultados do ALM,
registrar ativos na
categoria de ‘títulos
para negociação’ e na de
‘títulos mantidos até o
vencimento’,
na forma estabelecida
pela legislação. Nesta
última categoria, o
benchmark é o IPCA
acrescido da taxa de
desconto atuarial
vigente."
Em resposta a um
questionamento realizado
por mim sob
nº 33963620170119070104,
a Fundação esclareceu: "No
primeiro bimestre de
2014, houve uma
reestruturação dos
Fundos de Renda Fixa com
o objetivo de segregar
as classes de ativos em
distintos fundos, de
forma a deixar mais
transparente cada uma
das estratégias, bem
como facilitar a
comparação com seus
respectivos benchmarks."
Na ocasião, os fundos
Águia e Albatroz foram
descontinuados e
reabertos com o mesmo
nome. Foram retirados R$
4 bilhões do Albatroz,
para realocação conforme
a nova política de
investimento. Pode-se
supor que, neste
movimento, a Fundação
‘realizou o prejuízo’ de
2013, com a venda de
parte dos títulos no
mercado secundário,
justamente no pior
momento, em que a curva
de preço começava a
inflexionar pra cima
novamente (se serve como
alento, aquele citado
NTNB-Principal-2035, por
exemplo, viria a
recuperar o valor que
tinha no início de 2013
somente no segundo
semestre de 2016).
Em resumo, uma gestão
passiva em renda fixa 11
e uma exposição elevada
a títulos que embutiam
um componente pré-fixado
(IPCA + taxa pré),
ocasionou, num momento
de inflexão de taxas de
juros, a redução de R$
700 milhões no
patrimônio da PBB.
3º) A mesma gestão
passiva também parece
ser a regra nos
investimentos em renda
variável da Fundação,
fazendo com que a
rentabilidade flutue ao
sabor do índice ibovespa,
performando, em longo
prazo, menos que
aplicações em renda fixa
12,13,14
e impactando
negativamente o
resultado geral da
carteira.
Tal comportamento não é
exclusivo da FAPES: pela
base de dados ANBIMA,
"dos 506 fundos de
investimentos em
atividade, cerca de
73,3% dos fundos –
após todo o esforço,
análise de mercado, e
expertise de seus
gestores (sic) –
não conseguirem entregar
para seus cotista uma
rentabilidade superior"
ao CDI15.
Em futuro artigo,
pretendo apresentar mais
detalhadamente o
desempenho, a relação
risco/retorno e os
custos dos fundos nos
quais a Fundação mantém
os recursos aplicados.
Na outra ponta da
questão, há o custeio do
PBB, pois,
evidentemente, uma ‘taxa
de administração’ maior
implica em resultado
líquido menor. Para o
custeio do Plano, é
prevista a destinação de
10% das contribuições
vertidas, pagas pelos
ativos, assistidos
(deduzida do salário e
do benefício,
respectivamente) e pelo
patrocinador 16.
Adicionalmente, há a
transferência de
recursos dos
investimentos do Plano
de Benefícios para o
Plano de Gestão
Administrativa (PGA).
"Atualmente, dos
investimentos, o que vem
sendo subtraído para
custear as despesas
administrativas é da
ordem de 0,6 a 0,7%",
nas palavras do próprio
diretor superintendente
da FAPES, Henrique Silva17.
Ou seja, a FAPES conta
com uma Diretoria
Superintendente – DIRSUP,
uma Diretoria de
Investimentos – DIRIN,
um Comitê de
Investimentos – COMIN,
uma Diretoria de
Administração e
Controles – DIRAC, um
Administrador
Estatutário Tecnicamente
Qualificado – AETQ,
todos empenhados em
garantir os melhores
retornos e os menores
riscos sobre os
investimentos, e não
entregaram metade da
rentabilidade do CDI no
período 2013-2015.
Entendo que a ‘taxa de
administração’ deva ser
compatível com a ‘taxa
de performance’, assim
como a ‘taxa de risco’
deva ser compatível com
a ‘taxa de retorno’,
para qualquer
investimento ou
empreendimento. No caso
do custeio do PBB, isto
parece estar longe de se
comprovar.
Tendo em vista,
portanto, a proximidade
do novo encontro entre
Fundação e
participantes, que
abordará o tema mais
votado da enquete,
"Solvência do Plano
Básico de Benefícios",
julgo ser relevante que
sejam abordados os temas
dos investimentos e do
custeio do PBB, uma vez
que o resultado destes é
fundamental para a saúde
financeira do plano.
__________________
1
https://www.fapes.com.br/investimentos/politica-de-investimentos/
Política de
Investimentos 2017
(PDF - pág.4)
2
http://files.verdeasset.com.br/pdf/rel_gestao/158094/Verde-REL-2017_01.pdf
3
http://www.clubedospoupadores.com/investimentos/juros-reais-no-brasil.html
4
http://www.paulogala.com.br/breve-historico-da-taxa-de-juros-real-no-brasil-2/
5
http://arte.folha.uol.com.br/graficos/UuNyB/?
6
https://www.fapes.com.br/investimentos/politica-de-investimentos
Política de
Investimentos 2017
(PDF - pág.6)
7
http://www.clubedospoupadores.com/tesouro-direto/como-investir-tesouro-ipca.html
8
https://www.fapes.com.br/participante/investimentos/patrimonio/renda-fixa/
9
http://cbfp.com.br/2014/wp-content/uploads/2014/11/5_SP2-Antonio_Gazzoni.pdf
10
http://infofundos.com.br/lamina/fundo/13068
11
http://sl.empiricus.com.br/fixa-rf/
12
http://www.clubedospoupadores.com/investimentos/renda-fixa-x-renda-variavel.html
13
http://www.infomoney.com.br/blogs/investimentos/infomoney-recomenda/post/3992646/grafico-que-vai-fazer-voce-fugir-manter-longe-bovespa
14
https://leitaoemacao.wordpress.com/2008/09/11/ibov-grafico-historico-desde-1963-dolarizado/
15
http://terracoeconomico.com.br/os-fundos-de-investimentos-brasileiros-mais-rentaveis-do-seculo-xxi
16
https://www.fapes.com.br/participante/relacionamento/noticias/andamento-do-processo-sobre-equacionamento-do-deficit.htm
17
https://youtu.be/2wcTifJzZTc
|